domingo, janeiro 16, 2011

O que eu vi de melhor em 2010: nacionais

Viajo porque preciso, volto porque te amo (Marcelo Gomes e Karim Ainouz, 2009) – qualquer filme, curta ou documentário que traga o nome dos dois envolvidos nesse projeto deve ser programa obrigatório. Ao invés de se construir o filme a partir de um roteiro, criou-se o roteiro a partir de imagens captadas na filmagem de outros trabalhos. Não é para todos os gostos, mas o espectador que embarcar na empreitada será agraciado com uma autêntica experiência cinematográfica. Road árido movie!

As melhores coisas do mundo (Laís Bodanzky, 2010) – parece que o cinema nacional começa a prestar atenção no seu público adolescente. Estou, naturalmente, desconsiderando os projetos anuais da Xuxa e as últimas tentativas de Renato Aragão. Antes disso, e ainda assim muito recentemente, só havia o Jorge Furtado. Laís consegue fazer um filme divertido, alto astral, competente e bastante honesto.

Os famosos e os duendes da morte (Esmir Filho, 2009) – a fotografia de Mauro Pinheiro Jr. é fundamental para conferir ao filme o clima fantasmagórico que ele requer. De certa forma o oposto do filme da Laís: introspectivo, lento e melancólico. É difícil não compará-lo com as últimas incursões de Gus Van Sant pelo universo adolescente. Bela estréia de Esmir Filho em longa metragem.

Antes que o mundo acabe (Ana Luiza Azevedo, 2009) – outro belo filme que retrata os adolescentes, produzido pela Casa de Cinema de Porto Alegre. A trupe de Jorge Furtado toma as rédeas do projeto e nos entrega mais do mesmo: um cinema jovem, no tema e na execução, cheio de vida e ávido para se comunicar. Do Rio Grande do Sul para o mundo. Uma pena ele não ter encontrado um público numeroso enquanto estava em cartaz. Merecia!

O homem que engarrafava nuvens (Lírio Ferreira, 2009) – a sessão que eu peguei do filme no Espaço Unibanco estava repleta de senhoras. A comoção ao final da projeção era geral. Tinha gente voltando pra assistir de novo. Não é pra menos: o filme traça um panorama amplo de uma fase de ouro da música popular brasileira e discute, conceitualmente, os dois grandes eixos em torno do qual essa música se articula – o samba e o baião. Nele, o nordeste é protagonista. O documentário faz jus a persona de Humberto Teixeira, fiel colaborador de Luiz Gonzaga, o Rei do Baião. Já faz algum tempo que o melhor do cinema nacional vem do nordeste.

Dzi Croquettes (Raphael Alvarez e Tatiana Issa, 2009) – para pessoas como eu, que não sabia da existência do grupo, o documentário presta um serviço precioso. A palavra contracultura nunca fez tanto sentido pra mim: aqui, o corpo é a arma de protesto. O balé dos corpos assume outro significado, sem, no entanto, perder sua candura.

Uma noite em 67 (Ricardo Calil e Renato Terra, 2010) – belo documentário editado, sobretudo, a partir de material de arquivo. Ótima decisão dos realizadores de não interferir no material com uma narração em off. São apenas os personagens contando e recontando suas façanhas e performances da histórica noite em 67. A história é posta a limpo.

Tropa de Elite 2 (José Padilha, 2010) – outro soco na boca do estômago. Mais maduro e depurado que o primeiro. Nas palavras de Inácio Araújo: “... Pode-se discutir ao infinito os filmes sobre a ação do Bope e seu capitão Nascimento. Com eles, o morro não é mais caso de cultura ou distribuição de renda. O problema central é de polícia e de corrupção (corrupção policial sobretudo). “Tropa de Elite” faz tudo voltar ao começo: a questão da favela não é bem a favela, mas o fato de a sociedade ter acreditado, o quanto pôde, que deixando os seus pobres à margem evitaria o contágio da boa sociedade com a outra.” Assino embaixo.

Reflexões de um liquidificador (André Klotzel, 2010) – o filme que faltava para formar a trilogia brasileira do humor negro/macabro com O cheiro do Ralo (2006), de Heitor Dhalia e Estômago (2007), de João Miguel. Um pouco menos marcante e inspirado do que os seus antecessores, mas nem por isso menos interessante. Assim como nas outras produções o elenco da um show à parte, em especial Ana Lúcia Torres. Um tesouro a ser descoberto.

Os inquilinos (Sérgio Bianchi, 2009) – um filme mais acessível do Bianchi. Sua ira está mais contida, mas seu inconformismo permanece o mesmo.

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