domingo, maio 08, 2011

The Pawnbroker (Sidney Lumet, 1964)


Jesus Ortiz aponta para os números tatuados no braço de Sol Nazerman

Jesus Ortiz: You want to tell me something, Mr. Nazerman? What is that? That... is that a secret society or something?
Sol Nazerman: [hesitates] Yeah.
Jesus Ortiz: Well... what do I do to join?
Sol Nazerman: What do you do to join? You learn to walk on water.

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Na cobertura do obituário de Sidney Lumet a grande maioria das resenhas jornalísticas se referia a carreira do diretor dando ênfase ao seu caráter irregular. Embora seja de fato, todas concordavam que os seus pontos altos compensam, e muito, os seus deslizes. Verdade seja dita, não é fácil manter a cadência em trajetória tão prolífica como a de Lumet (seu primeiro filme para o cinema data de 1958, Doze homens e uma sentença e seu último de 2007, Antes que o diabo saiba que você está morto): são mais de 70 títulos entre televisão e cinema em mais de 60 anos de trabalho. Outros diretores, falecidos ou ainda em vida, também podem ser analisados sob o mesmo prisma: Raoul Walsh, Otto Preminger, Robert Altman, Woody Allen, etc. Até agora, só posso dizer que vi a nata da sua produção. Ainda tenho muito o quê conferir.

Melhor homenagem a um cineasta falecido do que assistir aos seus filmes não existe. Prestei a minha vendo The Pawnbroker (no Brasil ganhou o nome de O Homem do Prego).

Filme muito comentado nos círculos especializados, porém pouco conhecido do grande público. Talvez porque o seu protagonista seja Rod Steiger - não exatamente uma grande estrela de cinema, mais comumente lembrado pelas produções premiadas em que participou: Sindicato dos Ladrões (1954, Elia Kazan), em que foi nomeado a coadjuvante, e No Calor da Noite (1967, Norman Jewison), em que levou o Oscar como protagonista. É uma pena, já que boa parte da força do filme se vale da interpretação de Steiger. Aqui, ele interpreta um judeu sobrevivente de Auschwitz que perdeu toda a família no campo de concentração. Vivendo em Nova York, amargurado, solitário e descrente, toca uma loja de penhores num bairro não muito amistoso.

A caracterização de Nova York por Lumet beira a perfeição: um ambiente opressivo, humanamente devastado – ainda que não por completo (bem representado pela personagem de Geraldine Fitzgerald) – e muito bem captado pelas lentes expressionistas do fotógrafo Boris Kaufman. As cenas em que Sol Nazerman (Rod Steiger) perambula pelas ruas de Nova York ao som da trilha de Quincy Jones me lembraram muito as caminhadas de Jeanne Moreau no filme de estreia do francês Louis Malle, Ascensor para o Cadafalso (1958), com trilha de Miles Davis. O vazio interior dos personagens contrasta com a profusão de luzes que emana dos outdoors, fachadas, sinais e faróis.

As preocupações que norteavam o interesse dos cineastas americanos na década de 60 – a questão racial, violência, drogas, as minorias – estão todas presentes na produção, e, curiosamente, não ofuscam a jornada do personagem principal; chegam, na verdade, a servi-lo com precisão. Não há uma nota falsa sequer. São poucos os filmes que retratam os sobreviventes dos campos de concentração de forma tão honesta quanto este. Um grande filme a ser (re)descoberto. Salve Lumet!

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