segunda-feira, fevereiro 25, 2013

Curvas da Vida (Robert Lorenz, 2012)




Uma sessão de Curvas da Vida seguida ou precedida de O Homem que Mudou o Jogo (Bennett Miller, 2011) daria uma interessante dobradinha. Enquanto o primeiro reprova a interferência da estatística para estabelecer o perfil de um jogador de beisebol, o segundo se presta a narrar o processo em que a sua adoção, ao que parece, alterou definitivamente os parâmetros de análise do jogo. Ao contrário do que se prega, não considero nem um pouco necessário para acompanhar os filmes um conhecimento prévio das regras que regem esse esporte, embora eu concorde que esse argumento justifique o suposto desinteresse do público brasileiro por eles. Como todo filme de esporte, o que interessa de fato é o que se encontra fora do campo, não o que se passa dentro dele. O que está verdadeiramente em jogo é a relação interpessoal daqueles que promovem o espetáculo, seja ele cinematográfico, como o boxe, ou não, como os demais esportes.

Mesmo com todos os defeitos possíveis, tendo a preferir o calor humano de Curvas da Vida à frieza contida de O Homem que Mudou o Jogo, apesar da intensa badalação a este último na temporada de premiação do ano passado. O charme de Curvas da Vida é irresistível, tanto pela forte influência física (como ator) e temática de Clint Eastwood na produção, como pela iluminada interpretação de Amy Adams, cuja graça espontânea enobrece seu personagem. Eu sempre desconfiei dessa característica em suas interpretações, a ponto de considerá-la forçada em boa parte das vezes. Depois das duas produções que contam com a sua presença no ano passado, Curvas e O Mestre (Paul Thomas Anderson), finalmente me rendi ao seu encanto. Não é exagero afirmar que o filme vale por causa dela.

O diretor Robert Lorenz tem sido desqualificado justamente por estar à sombra de Clint Eastwood. O crítico da Folha, Inácio Araújo, em breve comentário de Curva em seu blog diz, “parece que estamos assistindo a um novo Buddy Van Horn. Quer dizer, de alguém que vai dar em nada”. Estou mais para o Sérgio Alpendre, ao afirmar que “a direção de Lorenz é segura, coisa de artesão da Hollywood dos anos 1950, o que não quer dizer que seja medíocre”. Lorenz produziu os últimos 10 filmes de Eastwood, além de servi-lo como second assistant director em 8 dessas produções. Parece ser sócio de Eastwood na produtora Malpaso. Depois de uma longa carreira premiada, nada como um generoso reconhecimento por uma frutífera parceria. Lembra-me a ultrapassagem consentida de Gerard Berger em Airton Senna na última curva do Grande Prêmio do Japão de 1991. Com o campeonato assegurado, a pedido do chefe da equipe Ron Dennis, Senna cedeu a vitória no GP em questão ao seu parceiro de corrida depois de três temporadas juntos. Um gesto à altura dos melhores personagens das produções da dupla.

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