sábado, março 15, 2014

Bens Confiscados (Carlos Reichenbach, 2004)



A política nos filmes do Carlão dificilmente entra pela via direta, seja ela a abordagem de um tema importante/polêmico, o retrato de alguma figura do alto escalão do governo, uma trama conspiratória ou um desejo irrepreensível de se fazer denúncia. Seus personagens, no entanto, vivem cercados pelas consequências de sua prática, mesmo quando se esforçam para se manter afastados dela. Em Bens Confiscados essa premissa é levada ao limite já que o filme todo existe em função das ações do deputado corrupto, que não dá as caras ao público em momento algum da projeção. Sua presença é dispensável, restando em cena apenas os efeitos nefastos da sua influência - ligados, naturalmente, ao dinheiro e ao poder.

Caminhando na direção oposta à de um thriller norte-americano ou italiano dos anos 1970, Carlão orienta sua câmera àqueles personagens que não costumam ganhar as páginas dos noticiários jornalísticos. Sua dramaturgia evita o espetáculo a todo custo, trafegando pelos espaços mais recônditos do nosso território. Mesmo nesses não-lugares, tampouco imunes a barbárie civilizatória, seu cinema humanista encontra fôlego para aflorar com propriedade e, sobretudo, afetividade.

A adversidade está presente, guiada pelo rastro das ondas de perversão emitidas pelo deputado investigado, dissimulada somente pela grandeza de seus personagens. E, embora torçamos para que essa qualidade ao fim se sobressaia, o desfecho não nos reserva o conforto que a esperança se mostrou incapaz de nos proporcionar. Melhor que seja assim, qualquer outro caminho adotado seria desonesto com a nossa condição duradoura de cidadãos molestados pela corrupção onipresente.

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