A Guerra dos Balcãs, envolvendo
povos de etnias, culturas e religiões distintas, sempre foi a mais difícil para
o meu entendimento, tamanha a quantidade de pequenos incidentes sucessivos que
a compõem (culminando na Primeira Guerra Mundial), além do tratamento dado às
fronteiras dos povos envolvidos, rearranjados ao término deste conflito e de
outros que perduram até os dias de hoje.
Uma das virtudes dos filmes de
Kusturica é justamente se deixar ver sem que todo esse repertório esteja
pré-esclarecido para o espectador – suas estórias se passam depois que tal
guerra varreu o continente europeu. Seus personagens, habitantes desse
caldeirão de adversidades e conflitos, convivem em um ambiente extremamente
politizado, com a liberdade tolhida pelo controle exacerbado que o Estado
exerce sobre eles – fruto da influência da extinta União Soviética. Essa
condição de vigília permanente, marca registrada do cinema russo e do leste
europeu (responsável, por vezes, pelo clima pesado de suas produções), perpassa
todo o filme.
Kusturica adota uma abordagem
menos sombria, flertando o tempo todo com o registro caricatural, mais próximo
do que seria uma paródia. O tom de gravidade não é abandonado por completo,
sendo constantemente entremeado por situações cômicas, todas centradas no
núcleo familiar da trama. Inclusive, esse laço fraterno que une os personagens,
seja pelo sangue ou pela necessidade imposta de convivência, quando mal administrado,
assume o papel de estopim dos conflitos – no macro (país) ou micro (família)
ambiente. Nesse contexto de socialização mais amplo, as diferenças são
minimizadas (ou talvez toleradas), quando não se manifestam na forma de
decisões tomadas por razões políticas que escondem uma escusa motivação
pessoal.
Esse detalhe, a propósito, é um
dos principais responsáveis pela continuidade do conflito na região até os dias
de hoje, quando irmãos de sangue assumem, por influência do meio, posturas
ideológicas distintas, negociadas frequentemente na base da violência.
A perspectiva infantil adotada por Kusturica em Quando Papai Saiu em Viagem de Negócios, ao menos evita, circunstancialmente, que o sangue jorre na tela. Daí também vem a sua beleza – um rito de passagem incomum, repleto de relações pessoais à flor da pele. Um dos precursores do filme político filtrado pelos olhos de uma criança.
A perspectiva infantil adotada por Kusturica em Quando Papai Saiu em Viagem de Negócios, ao menos evita, circunstancialmente, que o sangue jorre na tela. Daí também vem a sua beleza – um rito de passagem incomum, repleto de relações pessoais à flor da pele. Um dos precursores do filme político filtrado pelos olhos de uma criança.
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