It´s said that Chaplin wanted you to like him, but Keaton didn´t care. I think he cared, but was too proud to ask. His films avoid the pathos and sentiment of the Chaplin pictures, and usually feature a jaunty young man who sees an objective and goes after it in the face of the most daunting obstacles. Buster survives tornados, waterfalls, avalanches of boulders and falls from great heights, and never pauses to take a bow: he has his eye on his goal. And his movies, seen as group, are like a sustained act of optimism in the face of adversity; surprising how, without asking, he earns our admiration and tenderness.
Roger Ebert
Por Roumiana Deltcheva
Embora seja o menor longa-metragem de Buster Keaton, Sherlock Jr. é uma obra notável, com uma trama bem
amarrada, um impressionante atletismo (Keaton fez todas as acrobacias,
quebrando o pescoço durante uma delas sem perceber), virtuosismo artístico e
uma exploração vanguardista da eterna dicotomia realidade versus ilusão. Aqui,
Keaton interpreta um projecionista e aspirante a detetive acusado injustamente
de roubar o pai da namorada. Vítima de uma armação de um pretendente rival
(Ward Crane), o jovem é expulso da casa da moça. Deprimido, adormece no
trabalho. No seu sonho, entra numa tela de cinema (em uma brilhante sequência
de efeitos óticos), onde é o garboso protagonista Sherlock Jr. – o segundo
maior detetive do mundo.
Acrobacias inacreditáveis e gags complexas dão a este filme de 44
minutos um ritmo febril. A princípio, a realidade do cinema se recusa a aceitar
este novo protagonista e a tensão entre os dois mundos é apresentada de forma
magnífica através de mudanças de cenário que jogam nosso desnorteado
protagonista numa cova de leões, num mar agitado e numa nevasca. Aos poucos,
ele é completamente assimilado pelo mundo dos filmes. Na narrativa mise-en-abyme, o vilão (também interpretado por Ward
Crane) tenta matar o herói em vão, antes que Sherlock Jr. solucione mistério
das pérolas roubadas.
Sherlock Jr. não apenas conta com as incríveis acrobacias que tornaram Keaton
famoso como também apresenta uma séria de questões. De uma perspectiva social,
é uma análise das fantasias sobre ascensão social na sociedade americana. No
aspecto psicológico, apresenta o tema do duplo tentando obter sucesso nos
espaços imaginários, uma vez que o protagonista não é capaz de alcançá-los na
realidade comum, tangível. Acima de tudo, o filme é o reflexo da natureza da
arte, um tema que volta a surgir em O Homem das Novidades (1928), no qual Keaton transfere o foco da mídia
para o espectador.
Os filmes de Keaton continuam intrigantes até hoje, em parte por conta
do estoicismo quase sobrenatural do diretor-ator (comparado ao pathos de Chaplin) e em parte pela sua natureza
ocasionalmente surreal (admirada por Luis Buñuel e Federico García Lorca) e por
mergulharem na natureza do cinema e da própria existência. Chuck Jones, Woody
Allen, Wes Craven, Jackie Chan e Steven Spielberg estão entre os cineastas que
prestam homenagem à irresistível travessura de Keaton, e seus filmes continuam
sendo, talvez, os mais acessíveis de todos os filmes mudos.
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