Ainda que o meu entusiasmo por Eles Voltam não se compare ao arrebatamento proporcionado pelas
últimas produções provenientes de Pernambuco, é inegável que o material possui
uma sensibilidade que o distingue dos outros trabalhos gerados nesta região. O
enfrentamento das forças arcaicas colonialistas frente à disposição corrente
das relações urbanas contemporâneas, característico do cinema pernambucano em
atividade, encontra uma abordagem menos hostilizada nas mãos de Lordello - ele
investe mais na aproximação e no entendimento do que no conflito,
distanciando-se do caráter violento a qual outras abordagens estiveram
associadas. A protagonista de nome Cris (Maria Luiza Tavares), uma
pré-adolescente de 12 anos, é forçosamente submetida a um rito de passagem,
curto, é verdade, mas bem erigido, composto por cenas e situações bastante
inventivas. Lordello testa o tempo todo nosso preconceito, construindo sua
narrativa de forma a fazemos um julgamento prévio de algumas questões, para
logo em seguida sermos desarmados pelo desenrolar dos eventos. O mundo
"conspira" o tempo todo contra ela, que se vê obrigada pouco a pouco a
reagir, experimentando na pele o que seus pais se esforçaram para lhe poupar.
Dessa vivência involuntária e até então indesejada, desabrocha uma mulher.
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