Não deve fazer dois anos que eu confessei
meu desentendimento com a obra de Chabrol, sobretudo a fase da parceria com
Isabelle Huppert. Na ocasião estava maravilhado com Uma Garota dividida em Dois (2007). Novamente faço uma mea culpa tardia, certo de que me
precipitei no julgamento. Dessa vez, não só gostei muito do filme que intitula
essa postagem, como acredito que o mesmo funcione por causa de presença enigmática
de Huppert.
Mulheres
Diabólicas (1995), que não é uma tradução muito feliz para La Ceremonie, é muito foda. Chabrol
conduz a produção com a fina ironia que lhe é característica, construindo a
personagem de Sandrine Bonnaire, uma empregada doméstica de luxo, cercada por um véu opaco de mistério, legando ao espectador a desconfiança das suas verdadeiras motivações.
Isabelle Huppert representa a caipira
francesa frustrada, insatisfeita com a condição social que lhe foi reservada,
mas dotada de uma energia extenuante, canalizada ao esfacelamento dos patrões
burgueses de Bonnaire. Sua função é fazer a energia deles drenar até secar.
Mesmo desempenhando um papel não condizente com a sua elegância, Huppert sobra na
pele da funcionária dos correios. Filipe Furtado já havia feito a comparação de
Elle (2015, Paul Verhoeven) com as
produções de Chabrol, e esse filme é a constatação mais precisa dessa
aproximação.
A química entre as duas personagens gera
combustão na tela. A colisão entre os dois extratos sociais é inevitável, mas o filme
nunca assume o papel panfletário que poderia resultar dessa combinação
explosiva. É uma comédia de costumes de humor negro, refinada pela classe dos nomes envolvidos (Jean-Pierre Cassel, Jacqueline Bisset e Virgine Ledoyen). Minha próxima investida
será Um Assunto de Mulheres (1988), também da parceria Chabrol-Huppert.
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