O
Primeiro Homem (Damien Chazelle, 2018) – o jovem diretor parece interessado em
construir sua “autoria” investindo na trajetória de artistas, sejam eles
músicos, escritores ou astronautas, que suam suas camisas em busca do
estrelato. Para ele, esse processo não tem nada de glamoroso. São sangue, suor
e lágrimas. Chama-me a atenção o esforço que ele faz para encontrar uma conexão
emocional junto ao público. Aproveitei para ver Os Eleitos (Phillip Kaufman, 1983) por ocasião da estreia acima. Imagino o impacto que o filme deve ter
causado no seu lançamento, ainda que os relatos sejam de que ele foi bem
mal de bilheteria. É uma grande produção que trata o assunto com leveza (as
mortes são despachadas como nota de rodapé), sobressaindo a visão irônica da
prosa de Tom Wolfe, responsável pelos momentos inspirados de humor. A narrativa
que intercala as missões dos astronautas com a agonia doméstica das esposas
virou modelo para as produções que vieram depois.
Rua
da Vergonha (Kenji Mizoguchi, 1956) – o post de Sérgio Alpendre, intitulado
“hierarquia mizoguchiana”, adiantou a minha sessão do filme, já que pretendia
encarar a carreira do diretor de forma cronológica (com as produções que tenho
disponíveis), mesmo tendo encaixado Contos
da Lua Vaga (1953) e O Intendente
Sancho (1954) sem respeitar esse critério. Sendo assim, fui involuntariamente
direto para o seu canto do cisne. É um filme muito duro, quase documental,
retratando a vida num bordel do pós-guerra japonês. Quem o assiste, o adota
como referência. Mesmo certo de que as gueixas haviam comido o pão que o diabo
amassou, as histórias individuais delas ainda ressoam por dias a fio. Mizoguchi
não investe no sentimentalismo barato. Suas mulheres não são fragilizadas como
reflexo da condição exploratória que assumem, tendo algumas delas, inclusive,
se fortalecido pela experiência. Não é um filme agradável, embora seja
obrigatório.
Mãe
só há uma (Anna Muylaert, 2016) – os últimos filmes da diretora, incluindo
esse, nos convidam a reflexão. Desta vez, acho que a construção dramática foi
mais convincente do que em Que horas ela
volta? (2015). Começa dando indícios de que vai partir para uma exploração
do ambiente juvenil, centrado no personagem de Pierre, aparentemente indeciso
sobre a sua inclinação sexual. A guinada se dá cedo, quando os pais biológicos
de Pierre (Naomi Nero) o encontram, assumindo as rédeas da sua vida, justamente
no momento em que seu desabrochar sexual parecia conduzi-lo para uma saída do
armário. A abordagem é mais sensível do que o meu relato. O choque proporcionado
por esse convívio forçado e totalmente inoportuno (do ponto de vista dele)
proporciona momentos dramáticos bastante fortes. O jovem usa o figurino como
objeto de resistência, identidade e protesto.
Rodney
King (Spike Lee, 2017) – à espera do que pode vir a ser um dos grandes
filmes do ano, Infiltrado na Klan (Spike Lee, 2018), nos resta essa produção curta de Spike Lee, apenas 52 minutos, disponível na Netflix. Uma
espécie de versão cinematográfica de Hurricane,
a obra prima musical de Bob Dylan. Performance magistral de Roger Guenveur
Smith: corpo, voz e luz.
Á
Sombra do Vulcão (John Huston, 1984) - o que é a interpretação de Albert Finney?
Tornou-se a minha referência para o retrato de um alcoólatra. A carreira do
diretor costuma ser celebrada por outras produções, deixando essa pérola de
lado, em escanteio, o que é um desperdício. Imagens do grande fotógrafo Gabriel
Figueroa, que valoriza as cores do seu México. O filme explora a agonia da
liberdade que não pode ser gozada. Nas palavras de Geoffrey Firmin (Albert
Finney), “Sobriety, I´m afraid. Too much moderation. I need drink desperatly to
get my balance on”.
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