domingo, março 15, 2020

Soldados da Morte (Karel Reisz, 1978)

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A vida real está dificultando as minhas passagens neste espaço, e desta vez, influenciando o exercício da minha cinefilia. Embora eu não tenha suprimido por completo minhas sessões, elas foram razoavelmente reduzidas. Mas esse tempo há de passar. A conclusão do meu mestrado em breve deve desanuviar minha programação ociosa, que pretende ser ocupada com sessões mais frequentes.

Por enquanto, algumas produções acumuladas nesse período de escassez, mesmo que rarefeitas, causaram um impacto duradouro.

Começa pelo Soldados da Morte (1978), de Karel Reisz, título traduzido para o Brasil que consta no IMDB, cuja designação original oscila entre Dog Soldiers e Who´ll Stop the Rain.  Esta última é uma clara referência à famosa música do Creedence Clearwater Revival que constitui a base sonora do filme. Embora o enredo sugira o tráfico de cocaína como desdobramento verídico da Guerra do Vietnã, é o mal estar e a desesperança dos envolvidos que realmente importa. As ações envolvendo essa prática censurável servem de pano de fundo perfeito para descrever o abatimento generalizado que cercava o ambiente civil norte americano. A transgressão é a única opção viável de reinserção social – como nos clássicos de Raoul Walsh da Warner Bros. da década de 1930. O lobo solitário vivido por Nick Nolte é o retrato fiel da desilusão enfrentada pelos soldados que retornaram do front de guerra, desencantados com o país que encontraram e sem perspectiva alguma de levar uma vida dita “normal”. O Rambo de Stallone é mais taciturno, reservado e o filme de Ted Kotcheff permanece o tempo inteiro prestes a explodir – a perseguição a ele é mais espetacular e dura quase a metragem toda do longa. Soldados da Morte até ensaia um não-romance entre Nolte e a personagem de Tuesday Weld, numa espécie de evocação das memórias de um tempo que não volta mais, coisa que O Franco Atirador (1978), de Michael Cimino, se presta a dedicar uma porção mais prolongada do premiado filme. O final é absolutamente fantástico, com o personagem de Nolte externando toda a perturbação que ele passara o filme inteiro tentando evitar. O embate final se passa numa locação hippie abandonada que representa o fim de uma era – o eco de um EUA que havia deixado a ingenuidade para trás. A violência sempre esteve presente e os efeitos nefastos dela permanecem os mesmos, só cambiaram as armas.

3 comentários:

  1. Foi um dos primeiros filmes a mostrar o retorno de soldados que lutaram no Vietnã.

    Na época o filme chegou a ter outro título nacional: "Jogo Cego".


    Abraço

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