Por Adrian Martin
No plano de abertura de Paisagem na Neblina, de Theo Angelopoulos, um garotinho, Alexandre (Michalis Zeke) e sua
irmã pré-adolescente, Voula (Tania Palaiologou), emergem da escuridão e se aproximam
de um ponto próximo à câmera. Param. A câmera começa a circular lentamente ao
redor deles. Ela pergunta: “Você está com medo?” Ele responde: “Não, não estou.”
De repente se separam e começam a andar, desta vez mais rápido, em direção a
uma estação de trem que agora vemos ao longe.
Essa tomada de um minuto é impressionante e define o padrão do que virá
em seguida. Pessoas e veículos obstinadamente se mantendo em seus caminhos,
alheios a todo o resto, algumas vezes parando, outras mudando de velocidade;
paisagens desertas ou sombrias com uma única referência bem definida; sons
naturais e estridentes substituídos, quando a cena se esvazia, pela música
intensa de Eleni Karaindrou. E, sobretudo, a câmera de Giorgos Arvanitis
circulando, avançando e recuando em um ritmo e com uma intenção sempre
distintos da ação, sempre gravando a curiosidade, paixão, sabedoria e o pathos do olhar de Angelopoulos.
Tais padrões dão feição e forma aos eventos deliberadamente esparsos e
em aberto da trama: as crianças fogem de sua casa e tentam chegar à Alemanha de
trem para procurar um pai que talvez nem exista, encontrando, em seu caminho,
estranhos que podem ser prestativos ou ameaçadores. Este é um road movie
sombrio mas exultante, situado em algum ponto entre as crônicas de fragmentação
do pós-guerra de Roberto Rossellini e os panoramas centrados em paisagens por
Chantal Akerman que retratam uma “nova ordem mundial” vazia.
Quase nada nunca se junta nesses espaços e lugares sem nome entre
Atenas e a fronteira alemã: enquanto Voula e Alexandre estão em um pátio, na
frente deles um trator desatola um cavalo moribundo e, atrás deles, um grupo de
convidados de um casamento sai do quadro cantando e dançando. É apenas na
relação hesitante entre Voula e o músico itinerante Orestis (Stratos
Tzortzoglou) que a imagem começa a zumbir com a tensão da atração e da
repulsão. Contudo, isso dura apenas um pequeno e precioso intervalo de tempo:
novamente essas crianças irão andar, parar e andar, ainda mais rápido, ao longo
de uma estrada sem fim, enquanto a câmera se eleva bem alto no ar gélido e
Orestis acena duas vezes uma despedida desamparada para ninguém.
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