Por Steven Jay Schneider
Em 1954, o cineasta etnográfico
Jean Rouch foi convidado por um pequeno grupo de haukas da cidade de Acra, na
África Ocidental, para documentar seu ritual religioso anual. No decorrer dessa
cerimônia, os haukas entram em um estado de transe e são possuídos por
espíritos que representam os colonialistas ocidentais (o engenheiro, a esposa
do médico, o governador-geral, o major cruel, etc.).
Embora tenha apenas 36 minutos,
as imagens de Os Mestres Loucos são
extraordinárias e muitas vezes chocantes: homens possuídos, com os olhos
girando, espumando pela boca, queimando seus corpos com tochas. De fato, o
filme Marat/Sade, de 1966, dirigido
por Peter Brook, faria referência ao histrionismo e à linguagem inventada
capturados aqui por Rouch.
No entanto, como o próprio
diretor observou, para os haukas, a possessão por espíritos era verdade, não
arte. Embora o filme nunca explique por completo o significado por trás do
ritual, a narração de Rouch sugere que a participação na cerimônia religiosa
resulta em uma espécie de catarse que dá aos haukas – em sua maioria
trabalhadores rurais migrantes – a força necessária para manter sua dignidade e
continuar trabalhando sob condições duras e opressivas. Conforme observa um
acadêmico, a questão mais intrigante levantada por Os Mestres Loucos – um filme no qual “os oprimidos se tornam, por
um dia, possuídos e poderosos – diz repeito à relação complexa dos haukas com
sua experiência colonialista. Uma das obras-primas do cinema etnográfico.
Nenhum comentário:
Postar um comentário