Permanência (2014), Leonardo Lacca
(BRASIL)
A trupe responsável por O
Som ao Redor (Kléber Mendonça Filho, 2012), produz esse longa de
deslocamento (físico e espiritual), ambientado na capital paulista, mas de alma
pernambucana. O filme é de Irandhir Santos e, passado um mês da sessão, é
basicamente dele que me recordo e do personagem que faz uma caricatura do
paulistano - sem que isso represente algum tipo de vantagem para a análise.
Lembra um pouco as produções americanas da década de 1970, não tanto pelo inconformismo,
motivado pela política, mas mais pelo sentimento impregnado de desesperança.
Penso que um tom um pouco mais melodramático faria bem a ele.
Queen & Country (2014), John Boorman (INGLATERRA)
Parece cada vez mais difícil conciliar
entretenimento/diversão com densidade/profundidade. Ou se faz cinema para
entreter, ou se faz cinema para pensar/refletir. Só um diretor old school, que já não precisa provar
nada para ninguém, pra se arriscar no formato híbrido, num material que retrata
as forças armadas inglesas do pós-guerra sem que um tiro sequer seja disparado
- ele equilibra de forma hábil o drama e a comédia, evitando o tom solene das
produções britânicas. Uma possível sequência para Esperança e Glória (1987), sem a onipresença ameaçadora do nazismo
- como diria o Capitão Nascimento, o inimigo agora é outro, praticamente
indecifrável. Um registro de passagem da adolescência à vida adulta, com o
toque irresistível do humor inglês.
Retorno a Ítaca
(2014), Laurent Cantet (CUBA)
Palma de Ouro com Entre
os Muros da Escola (2008), o francês Laurent Cantet faz, com Retorno a Ítaca, um puro filme cubano,
sem tirar nem pôr. Totalmente filmado em Havana, ou melhor, num terraço
debruçado sobre a capital cubana, Ítaca
fala dos eternos dilemas da ilha, e talvez o principal deles – permanecer no
país e sofrer privações ou exilar-se e morrer de saudades pelo resto da vida.
Luiz Zanin Oricchio foi sucinto, mas certeiro no parágrafo acima. O filme é
muito falado e o texto é tão bom que exige de Cantet apenas o controle do ritmo
e das interpretações, aliás, todas excelentes. Política na veia mesmo para quem
não gosta de tratar do assunto – se correr o bicho pega, se ficar o bicho come.
Eu vi o filme na véspera do segundo turno para a presidência, no calor das
declarações de pessoas dizendo que deixariam o país caso Dilma fosse reeleita.
Patético! Retorno a Ítaca ajuda a colocar
as coisas em perspectiva.
O Sol do Marmelo (1992), Victor Erice
(ESPANHA)
Mais uma vez recorro a Luiz Zanin Oricchio e seus pequenos
textos de recomendações redigidos enquanto o evento acontecia, “A começar
pelos imperdíveis e, um entre todos, O
Sol do Marmelo, de Victor Erice, uma raridade nas telas brasileiras. Erice
acompanha um amigo pintor, dia após dia, enquanto este tenta captar o
impossível – a cor de uma fruta de marmelo, batida pelo sol, no momento em que
ela atinge o esplendor e antes que caia do pé e apodreça. Claro, a tentativa é
uma parábola da passagem do ser humano pela Terra e a tentativa de captar o
tempo, em seu auge. Talvez o mais belo filme do diretor, conhecido por sua obra
pequena (apenas três longas), de grande rigor e beleza formal”. Curto e grosso
(essa parte é minha!): um dos melhores documentários que eu já vi. Obra-prima.
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