P´tit
Quinquin (2014), Bruno Dumont (FRANÇA)
Mais um exemplo de uma minissérie
encomendada para a TV que ganhou as telas dos cinemas. A exibição no CineSesc
estava impecável, digna de registro. O Quinquin do título parece um Tintin às avessas, no sentido de que
suas brincadeiras e/ou travessuras possuem um caráter mais perverso. À medida
que o filme avança, a relativa estupidez de Quinquin e de seus colegas começa a
soar ingênua frente aos episódios absurdos de esquartejamento que injuriam os
habitantes da região. Um respiro na obra de Bruno Dumont, comumente lembrado
pela austeridade de seus temas e personagens. Ele encontrou o tom certo da
comédia, sem abrir mão do seu estilo. A dupla protagonista de policiais está
impagável.
Los
Angeles Por Ela Mesma (2003), Thom Andersen (EUA)
Um verdadeiro achado para o amante do
cinema. Foi a minha última sessão da Mostra em São Paulo e não poderia ter sido
mais gratificante. O IMDB traz a seguinte descrição da produção, "A
documentary on how Los Angeles has been used and depicted in the movies".
Embora ela seja precisa, o filme se desdobra em outras camadas de
interpretação, capazes de atrair o interesse de um público não muito ligado a
sétima arte. A "história" de Los Angeles filtrada pelo cinema e pelos
diversos cineastas que a compuseram ao longo do tempo (consciente ou
inconscientemente). Fecho com o Filipe Furtado, "O melhor trabalho crítico
sobre cinema dos anos 2000. Todos aqueles que desejam fazer cinema deveriam ver
o filme de Andersen ao menos uma vez, porque ao final dele saímos com uma
consciência muito maior sobre a nossa responsabilidade sobre os espaços que
filmamos".
Acima
das Nuvens (2014), Olivier Assayas (EUA-FRANÇA)
Este filme e o próximo foram vistos na Itinerância
da Mostra que chegou a Ribeirão Preto posteriormente. A exibição foi
prejudicada pela má regulação da luz, que estourava sempre que a captação era
diurna. Não diria que se trata de um filme memorável de Assayas, tampouco seria
honesto se dissesse que a produção não desperta interesse. A belíssima locação
quase rouba a cena, dominada pela queda de braços entre as atrizes Juliette
Binoche e Kristen Stewart. Quem duvidava da capacidade de interpretação da
insossa Bella Swan da franquia Crepúsculo,
vai ficar de queixo caído. O filme faz uma interessante e amargurada reflexão
do mundo do showbiz sob a ótica da
influência implacável que o tempo exerce sobre o seu principal ativo: o astro
de cinema - quando calha de ser um ser humano. Com a proliferação das
animações, essa observação se faz pertinente.
Tsili
(2014), Amos Gitai (ISRAEL)
É pouco provável que eu seja capaz de me
recordar dos detalhes dessa produção num futuro próximo. Amos Gitai não
facilita a vida do espectador, de forma que a procedência e o paradeiro da sua
protagonista (Tsili) só são revelados nas últimas cenas do filme. Entretanto, é
essa aura de mistério serenamente construída que garante o seu interesse. Das
longas tomadas dos refugiados em meio à natureza e do som do violino regendo a
caminhada dos sobreviventes, dificilmente eu me esquecerei. A edição do material
dificulta a identificação do tempo da narrativa, que só faz aumentar a
consciência da atemporalidade do seu conteúdo (bélico).
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