Por Chris Fujiwara
Um dos poucos filmes antinazistas produzidos por Hollywood antes de
Pearl Harbor, Tempestades d´alma, de
Frank Borzage – uma obra detalhista e apaixonada na sua condenação ao regime -,
começa no dia em que Adolf Hitler se torna chanceler da Alemanha. O dia também
calha de ser o sexagésimo aniversário do professor Viktor Roth (Frank Morgan),
um admirado professor de ciências de uma universidade no Sul do país. O filme
mostra a consolidação da Alemanha nazista através da destruição do “não ariano”
Roth e sua família: sua esposa, seus enteados arianos, que se tornam nazistas
fanáticos, e sua filha, Freya (Margaret Sullavan).
Borzage retrata o nazismo como uma forma de loucura à qual muitos
homens – e apenas uma mulher, pelo que vemos – sucumbem, como se por contágio
ou predisposição natural (o filme não analisa as raízes socioeconômicas do
regime fascista), mas com o qual, através de alguns indivíduos, a humanidade remanescente
entra em conflito. A magnífica cena final situa o conflito dentro do personagem
interpretado por Robert Stack. Sozinho na casa do padrasto, ele caminha por
seus cômodos vazios. A câmera o ultrapassa, explorando o espaço imerso em
sombras, com uma trilha sonora feita de diálogos de cenas anteriores; ouvimos
os passos do jovem à medida que ele sai de casa.
Tempestades d´alma é uma das maiores histórias de amor do
cinema americano. A abordagem pungente e sutil de Borzage da relação entre
Freya e Martin (James Stewart) está de acordo com o compromisso do diretor, que
o acompanhou por toda a carreira, com o poder transcendente do amor – um idealismo
ao qual as atuações admiráveis de Sullavan e Stewart mantêm-se fiéis. Pouco
antes de os amantes seguirem para o desfiladeiro que cruza a fronteira
austríaca, a mãe de Martin (Maria Ouspenskaya) os faz celebrar sua união
bebendo de uma taça cerimonial de vinho. Essa cena é uma das mais brilhantes de
toda a carreira de Borzage.
O produtor não creditado Victor Saville afirmou ter dirigido boa parte
do filme, uma declaração que foi muito repetida, porém refutada por vários dos
principais membros do elenco e da equipe. Sem dúvida alguma, Tempestades
d´alma representa plenamente o estilo, a
filosofia e as preocupações de Frank Borzage.
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