Este ano tive de abortar minha ida a São Paulo para usufruir
da Mostra em virtude da abertura de um novo negócio ainda no primeiro semestre
e desde já vislumbro dificuldades para comparecer a próxima edição em função da
chegada de uma nova filha.
Sendo assim, me sobrou de consolo a Itinerância da Mostra em
Ribeirão Preto, que trouxe boas alternativas na seleção, cujos títulos que mais
me interessavam consegui ver: o derradeiro Manuel de Oliveira, Visita - Ou Memórias e Confissões, filmado
em 1982, mas lançado após o falecimento do diretor a pedido do próprio, e o
último Ermanno Olmi, Os Campos Voltarão,
que aborda as dificuldades de um bando de soldados ocupando uma trincheira na
fronteira da Itália com a Áustria, em plena Primeira Guerra Mundial. Ambos são
filmes curtos de pouco mais de uma hora de duração.
O primeiro captura o fantasma do diretor falecido em imagens
semi espirituais num passeio pela casa onde o mesmo passou boa parte da sua
vida e cuja influência se faz presente em seus filmes. A leveza das imagens
captadas atrelada a serenidade do discurso de Manoel coloca
o espectador num estado de transe, na fronteira onde o sonho e a realidade se
misturam a ponto de se tornarem indistinguíveis. Um dos pontos altos é o relato
breve e apaixonante da sua esposa, que emociona por sua singeleza e honestidade.
Ermanno Olmi aborda um ambiente de desesperança assombrado
pela presença da morte. A trincheira de Olmi é bem diferente da trincheira de
Stanley Kubrick em Glória Feita de Sangue
(1957). Nessa versão mais recente praticamente nada acontece, tudo não
passa de um exercício de espera agonizante. O tempo é implacável. Por essas e
por outras quando vem o bombardeio o efeito é mais impactante, lembrando um
pouco Verão Violento (1959), de
Valério Zurlini. Apesar da jornada desgastante em meio a um frio congelante, a
sensação que fica ao término é mais positiva que negativa.
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