sábado, dezembro 19, 2015

Itinerância da Mostra 2015



Este ano tive de abortar minha ida a São Paulo para usufruir da Mostra em virtude da abertura de um novo negócio ainda no primeiro semestre e desde já vislumbro dificuldades para comparecer a próxima edição em função da chegada de uma nova filha.

Sendo assim, me sobrou de consolo a Itinerância da Mostra em Ribeirão Preto, que trouxe boas alternativas na seleção, cujos títulos que mais me interessavam consegui ver: o derradeiro Manuel de Oliveira, Visita - Ou Memórias e Confissões, filmado em 1982, mas lançado após o falecimento do diretor a pedido do próprio, e o último Ermanno Olmi, Os Campos Voltarão, que aborda as dificuldades de um bando de soldados ocupando uma trincheira na fronteira da Itália com a Áustria, em plena Primeira Guerra Mundial. Ambos são filmes curtos de pouco mais de uma hora de duração.

O primeiro captura o fantasma do diretor falecido em imagens semi espirituais num passeio pela casa onde o mesmo passou boa parte da sua vida e cuja influência se faz presente em seus filmes. A leveza das imagens captadas atrelada a serenidade do discurso de Manoel coloca o espectador num estado de transe, na fronteira onde o sonho e a realidade se misturam a ponto de se tornarem indistinguíveis. Um dos pontos altos é o relato breve e apaixonante da sua esposa, que emociona por sua singeleza e honestidade.

Ermanno Olmi aborda um ambiente de desesperança assombrado pela presença da morte. A trincheira de Olmi é bem diferente da trincheira de Stanley Kubrick em Glória Feita de Sangue (1957). Nessa versão mais recente praticamente nada acontece, tudo não passa de um exercício de espera agonizante. O tempo é implacável. Por essas e por outras quando vem o bombardeio o efeito é mais impactante, lembrando um pouco Verão Violento (1959), de Valério Zurlini. Apesar da jornada desgastante em meio a um frio congelante, a sensação que fica ao término é mais positiva que negativa.

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