Eu recheei este post de imagens do filme porque, de
fato, elas me chamaram muito a atenção – lembrou-me bastante o technicolor das produções americanas da
década de 50, com cores vivas, vibrantes e iluminação muito característica, beirando
o cartoonesco. Quando eu vi o trailer do longa antes da sessão de A Separação (Asghar Farhadi, 2011) eu
duvidei que o visual adotado resultasse apropriado ao material em questão. Felizmente,
eu estava enganado – como de hábito.
O trabalho de composição de Aki
Kaurismäki é primoroso e só funciona a contento porque os atores foram muito bem
escalados e dirigidos. Todos os personagens, inclusive aqueles que dispõem de pouco
tempo em cena, são relevantes. Não só pela importância que o roteiro atribui a
cada um deles no desenrolar da trama, mas principalmente devido às cuidadosas interpretações
em completa sintonia com o tom farsesco que permeia o filme. Este, aliás, está
muito bem dosado e equilibrado, de forma que a gravidade da situação abordada –
dos excluídos, no caso os imigrantes franceses, sobretudo – nunca assume a
chancela de denúncia ou acusação, bem como a parcela de comicidade que cabe nessa
equação suaviza a jornada dos envolvidos – a leveza das caracterizações contribui muito para
isso -, culminando num desejado efeito irônico de caráter sutil, porém efetivo.
O filme extrai sua força dessa
roupagem burlesca, paródica, que cai como uma luva para o universo dos menos
favorecidos. A teia que une os personagens contra a opressão das autoridades é muito
sólida: a fim de preservar a própria dignidade eles recorrem à boa e velha
solidariedade. Todos se tornam cúmplices nesse jogo pela sobrevivência. Quem sai
lesado é o governo de Nicolas Sarkozy, que leva um tapa de luva de pelica
daqueles bem encaixados.
Mesmo sendo cedo, já é um dos
melhores lançamentos do ano.
Já está na minha lista. Kaurismaki sempre vale a pena.
ResponderExcluirO Falcão Maltês
Esse foi apenas o meu primeiro. Vou correr atrás dos outros agora.
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