sexta-feira, março 09, 2012

O Porto (Aki Kaurismäki, 2011)










Eu recheei este post de imagens do filme porque, de fato, elas me chamaram muito a atenção – lembrou-me bastante o technicolor das produções americanas da década de 50, com cores vivas, vibrantes e iluminação muito característica, beirando o cartoonesco. Quando eu vi o trailer do longa antes da sessão de A Separação (Asghar Farhadi, 2011) eu duvidei que o visual adotado resultasse apropriado ao material em questão. Felizmente, eu estava enganado – como de hábito.

O trabalho de composição de Aki Kaurismäki é primoroso e só funciona a contento porque os atores foram muito bem escalados e dirigidos. Todos os personagens, inclusive aqueles que dispõem de pouco tempo em cena, são relevantes. Não só pela importância que o roteiro atribui a cada um deles no desenrolar da trama, mas principalmente devido às cuidadosas interpretações em completa sintonia com o tom farsesco que permeia o filme. Este, aliás, está muito bem dosado e equilibrado, de forma que a gravidade da situação abordada – dos excluídos, no caso os imigrantes franceses, sobretudo – nunca assume a chancela de denúncia ou acusação, bem como a parcela de comicidade que cabe nessa equação suaviza a jornada dos envolvidos – a leveza das caracterizações contribui muito para isso -, culminando num desejado efeito irônico de caráter sutil, porém efetivo.

O filme extrai sua força dessa roupagem burlesca, paródica, que cai como uma luva para o universo dos menos favorecidos. A teia que une os personagens contra a opressão das autoridades é muito sólida: a fim de preservar a própria dignidade eles recorrem à boa e velha solidariedade. Todos se tornam cúmplices nesse jogo pela sobrevivência. Quem sai lesado é o governo de Nicolas Sarkozy, que leva um tapa de luva de pelica daqueles bem encaixados.

Mesmo sendo cedo, já é um dos melhores lançamentos do ano.

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