sábado, julho 24, 2010

Distrito 9 (Neill Blomkamp, 2009)


Em 1996, em pleno dia da Independência dos Estados Unidos, um verdadeiro blockbuster tomou as salas de cinema do mundo inteiro: Independence Day. A data não poderia ter sido mais do que oportuna, afinal de contas, o filme exala em cada fotograma um exagerado patriotismo e faz dos heróicos cidadãos norte-americanos verdadeiros salvadores da raça humana. O filme, que foi sucesso de público, é lembrado por muitos ao lado de Alien, o oitavo passageiro e das contribuições pessoais de Spielberg para o gênero (ET – o extraterrestre, Contatos Imediatos do Terceiro Grau e Guerra dos Mundos) como um marco da invasão alienígena. Goste-se ou não.

Infelizmente dois outros filmes, menores, lançados em 1996 e 1997 não lograram do mesmo êxito: Marte Ataca, de Tim Burton e Tropas Estelares, de Paul Verhoeven. Muito mais ricos em referências e idéias, críticos em relação ao assunto e políticos na abordagem, ambos custaram caro a seus realizadores, vindo, cada qual, a se tornar o único fracasso comercial de Burton e a sepultar a carreira hollywoodiana de Verhoeven.

Eis que em 2009 um óvni vindo de Johanesburgo, Distrito 9, assalta as telas de cinema e traz um sopro de criatividade a um gênero ultimamente acomodado a refilmagens e batalhas inócuas. É difícil sair indiferente a mistura de filme favela, ficção-científica e semi-documentário proposta pelo novato diretor Neill Blomkamp. Apadrinhado pelo realizador da trilogia dos anéis, Peter Jackson, Blomkamp desloca o eixo da ação para a África do Sul subdesenvolvida, e apimenta a discussão com uma metáfora do apartheid sul-africano que também pode ser lida como uma metáfora da luta de forças entre o primeiro e o terceiro mundo. À classe branca do filme só interessa o domínio armamentista, que pratica mortes sádicas não muito diferente das imagens que circulam pela internet das torturas em Guantánamo. A consciência branca só muda de lado quando o herói da história, em uma transformação física impressionante, passa a agir em prol dos mais fracos. Como de hábito, o espírito belicoso do ser humano toma conta da projeção.

OBS: Publicado em outubro de 2009 no site http://www.programapapodebuteco.com.br/

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