Depois que John Hughes (Gatinhas e Gatões, O Clube dos Cinco, Mulher Nota 1000, Curtindo a Vida Adoidado) reinventou a adolescência na década de 80, retratando seus sonhos, angústias e comportamentos, virou praxe associar esse período de nossas vidas aos filmes criados por esse diretor. De fato, nos vemos refletidos em seus personagens. Esses registros foram tão fortes que serviram de molde para tudo o que foi produzido a partir de então. A indústria cinematográfica descobria um nicho de mercado a ser explorado e um público ávido por se ver retratado nas telas.
Desde então, pululam nos cinemas produções - em tom mais infantil - retratando esse período, e vez ou outra surge nas telas algum filme digno de consideração e respeito. Em sua segunda incursão pelo território arenoso da adolescência Greg Mottola, do ótimo Superbad (2007), dirige Frustadas Férias de Verão (Adventureland, 2009), que saiu direto em DVD. Aproveitando-se da contribuição de Hughes para o gênero, ele ambienta seu longa no ano de 1987, recheia a trilha sonora de músicas que marcaram o imaginário de toda uma geração e conduz um elenco juvenil com maestria. Não acrescenta nada de novo ao assunto, mas o trata com honestidade. Nada de mortes repentinas, sustos forçados e sexo, drogas e rock n’roll. Pensando bem, talvez uma dose comedida dos três últimos, suficiente para apimentar a trama e aflorar em seus personagens paixões enrustidas e declarações contundentes.
A ação se passa dentro desse parque de diversões chamado Adventureland, que bem poderia ser uma escola, ou um desses acampamentos de verão. Nesse parque, ao contrário do que somos levados a intuir, os personagens se encontram para trabalhar não para se divertir, mesmo estando em período de férias escolares. Ninguém está lá porque quer, e sim porque precisa. O trabalho surge da falta de opção, como um meio de se ocupar do tempo à espera da próxima estação. O tempo presente, moribundo, soa passado. A célebre frase de John Lennon “Life is what happens to you while you’re busy making other plans” parece traduzir bem o clima que toma conta do filme.
O tom meio amargo da produção, o tédio, os dias cinzentos, a condição depredada do próprio parque, nada disso impede que a graça emane dos seus personagens. Mesmo nesse estado indolente, são as emoções humanas em todas as suas formas que assumem o papel principal. Ama-se, chora-se, odeia-se, ri-se. Apesar do caráter melancólico da minha escrita o filme é divertidíssimo, tanto que os personagens rezam para o tempo passar logo enquanto a platéia roga pela sua permanência.
Acredito que desde John Hughes não surge nada tão interessante quanto esse filme. Mesmo o mentor de Greg Mottola, o diretor e produtor Judd Apatow, com seu talento incontestável, não produziu nada à altura de Adventureland.
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