Foi o texto de José Geraldo Couto em seu blog do IMS que me levou a Boa
sorte, meu amor. Tivesse eu de escolher entre as diversas opções de sessões
no Espaço Itaú do Frei Caneca sem a prévia consulta ao seu blog, minha
predisposição dificilmente teria me levado a esse filme. Embora o texto de Zé
Geraldo atribua à película uma impressão positiva, ele não deixa de apontar as
fraquezas da proposta, “o filme ocasionalmente resvala, sobretudo em seu terço
final, para um certo inchaço estético (distorções de luz e som, enquadramentos
oblíquos, vertiginosos plongées) e
para rupturas frontais com o realismo que, a meu ver, nem sempre se justificam.
A tendência à alegoria corre o risco de afrouxar o impacto de uma narrativa
contundente”. A oportuna comparação com O
Som ao Redor (2012) foi o gatilho responsável por despertar o meu
interesse, “Os bons filmes de uma safra costumam iluminar uns aos outros, nem
que seja por contraste. Dessa perspectiva, O
Som ao Redor e Boa sorte, meu amor
são opostos que se complementam. Se o filme de Kléber Mendonça Filho é um
prodígio de equilíbrio e sutileza, o de Daniel Aragão é “petulante, ambicioso,
desgovernado”, como escreveu o jovem crítico Fábio Andrade na melhor críticaque li a respeito. É dessa desmesura que ele extrai sua força, ainda que
exponha também suas fragilidades”.
Enfim, Boa sorte, meu amor é mais um filho legítimo da safra de filmes
pernambucanos que se dispõe a tratar da herança que o passado remoto colonialista
exerce sobre a vida urbana contemporânea. Daniel Aragão trabalha esse mote no
cerne de uma relação amorosa, praticamente transpondo Romeu e Julieta para o inóspito agreste nordestino (com um final
mais ameno). A “volta às origens”, que representa um episódio dentro da
estrutura narrativa do próprio filme, escancara esse legado maldito reforçando a
impossibilidade de subvertê-lo – depois de um desentendimento, Maria
(Christiana Ubach) deixa Dirceu (Vinicius Zinn) e se refugia no interior,
forçando-o a procurá-la; esse regresso repentino “às origens” levanta uma
poeira indesejada há muito tempo assentada. Enquanto o romance de ambos se
desenvolve sob as sombras dos arranha céus de Recife, protegidos pela
impessoalidade das relações que caracterizam as aproximações urbanas
contemporâneas, tudo vai bem - até então, aflora apenas os interesses convenientes
à manutenção da ligação afetiva. Na hora do confronto com as tradições, em que
as máscaras são obrigatoriamente deixadas de lado e a configuração das peças
assumem outras perspectivas, todas as alternativas levam ao mesmo fim: o
destino desses amantes já estava selado muito antes de eles aportarem no mundo.
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