Embora eu tenha comprado o
livro A mise en scène no cinema – Do clássico
ao cinema de fluxo, de Luiz Carlos Oliveira Jr., ainda em 2013, só retomei
a leitura recentemente. Folheando os capítulos seguintes da publicação
(encontro-me na Parte 1, Capítulo 3), parece-me que a ideia do autor é
problematizar/questionar o termo que balizou por muito tempo a discussão acerca
da cinefilia. Mas antes de fazê-lo, como
já fica evidente na Parte 2 – “Onde está a mise
en scène?”, Luiz Carlos procura contextualizar o termo desde a sua origem,
no âmbito do teatro, para justificar a sua “apropriação” pelo cinema – sacramentada
pelos colaboradores da revista Cahiers du
Cinema, Jacques Rivette, François Truffaut, Eric Rohmer, Jean-Luc Godard e
Claude Chabrol, na década de 1950. O cinéfilo que já acumula alguns anos de
estrada é mais familiarizado com a expressão, de forma que o seu vocabulário
cinematográfico não sobrevive/fica incompleto sem a sua utilização. Já o iniciante
pode encontrar uma boa introdução à sua importância no trecho abaixo, extraído
do próprio livro, devidamente contextualizado.
Por Luiz Carlos Oliveira Jr.
A “política dos autores” inventada pela ala jovem da redação dos Cahiers
du Cinema tinha uma interessante
premissa, hoje bastante conhecida, segundo a qual era justamente em Hollywood,
sob a pressão de grandes produtores e no seio de um conjunto de regras técnicas
e profissionais, que a assinatura de um autor podia provar que seu lugar de
inscrição era mesmo a mise en scène. Não
raro privado da escrita do roteiro e/ou impedido de exercer qualquer controle
sobre a montagem, ao diretor hollywoodiano só restava concentrar sua expressão
artística individual naquele conjunto de fatores – incluindo iluminação, perfomances, gestual, enquadramento, decupagem, angulação,
etc. – que ele podia controlar durante a filmagem, no ato da encenação. Em suma, restava-lhes a mise en scène. No âmbito da crítica e da reflexão teórica
sobre o cinema, a “política dos autores” era uma maneira de “associar de um
modo irreversível a adesão a um cineasta e a compreensão de seu universo
formal, pessoal; para dizê-lo em poucas palavras: sua visão de mundo” (Antoine
de Baecque). E como um cineasta expressa a sua visão de mundo? Para os textos
fundadores da política dos autores, só há uma resposta: pela mise en scène. A única política dos Cahiers consistirá, então, em falar da estética dos
filmes, da sua realização. A moral de um filme, seu conteúdo, sua mensagem,
está intimamente relacionada à forma cinematográfica empregada pelo autor
(enquadramentos, movimentos de câmera, montagem, etc.). Desfaz-se a hierarquia
entre grandes e pequenos temas, boas e más mensagens. “O que define um grande
filme, o que impõe um grande tema, o que faz com que chegue uma mensagem, é a
verdade de sua mise en scène” (Antoine
de Baecque).
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