O Ato de Matar (Joshua Oppenheimer, 2013) - de todos os filmes relacionados aqui,
esse deve ser o menos comercial deles (trava uma briga feia com Cães Errantes). Que isso não sirva de
desculpa para se evitar o que talvez seja um dos mais importantes documentários
contemporâneos. Um verdadeiro soco no estômago. Busco socorro no blog do Filipe
Furtado, “O resultado final é um filme sobre a violência da linguagem,
linguagem da história, mas também linguagem do cinema, e as formas como ambas
terminam cúmplices do discurso oficial (o extermínio de "comunistas")
não importa o quão demente este seja”. Reitero o que escrevi no post
anterior ao sugerir uma ótima sessão double
bill com A Imagem que Falta (Rithy
Pahn, 2013).
Sob a Pele (Jonathan Glazer, 2013) - quando a música e as imagens se
complementam em um curioso efeito simbiótico. Um filme de atmosfera, que conta
com um casting perfeito de Scarlett Johansson abdicando do status de estrela
para encarnar um alien em processo de humanização numa Escócia aterrorizante. A
perseguição na floresta, com a consequente captura da criatura e o
"descolamento da pele" é antológica.
Inside Llewyn Davis (Joel e Ethan Coen, 2013) - eu andava meio impaciente com os
irmãos Coen, sem experimentar em suas produções recentes o mesmo entusiasmo que
as anteriores já me proporcionaram quando dos seus lançamentos. Este filme
reacende a chama do meu interesse por eles, que andava meio apagada. Dos tempos
em que a galeria de tipos criada pela dupla era digna de memória. De quebra,
trouxe Oscar Isaac para o primeiro time de Hollywood.
Era Uma Vez em Nova York (James Gray, 2013) - melodrama de primeira linha pelas mãos
de um dos mais talentosos diretores norte americanos em atividade. A última
cena é simplesmente antológica, digna de qualquer lista séria que se preste a
esse fim. Em apenas uma tomada ela sela o destino dos dois protagonistas que
duelaram o filme todo na tentativa de conciliar o irreconciliável.
Amar, Beber e Cantar (Alain Resnais, 2014) - numa ida à capital eu peguei uma
sessão dele às 0h (zero horas). Briguei um pouco com o sono e deixei a sala certo de que se
tratava de um Resnais menor. Foi preciso outro filme do diretor, Melô (1985), pra me restaurar o brilho
que eu havia perdido. Um assunto denso (de uma forma ou de outra todos os
filmes de Resnais tratam da morte), tocado com a leveza notável de sempre. Fará
muita falta!
O Grande Hotel Budapeste (Wes Anderson, 2014) - eu sempre fui um pouco desconfiado com
o hype gerado em torno da carreira do
diretor. Embora o seu talento seja inegável (bem como sua assinatura seja
facilmente reconhecível), seus filmes comumente me despertavam mais curiosidade
do que propriamente entusiasmo. Dessa vez eu realmente me diverti com a
proposta, devidamente apropriada de um autor (Stefan Zweig) que dificilmente se
associaria ao seu universo.
Cães Errantes (Tsai Ming-liang, 2013) - a exploração imagética do homem em
meio ao caos urbano contemporâneo; do corpo e do espaço que o rodeia. Uma
coleção vigorosa de situações bem encenadas e enquadradas, que dão conta de um
homem no limite da sua sanidade mental, em decorrência da miséria material em
que se encontra. Não é pra todos os gostos. O desfecho não alivia a barra para
o espectador.
Nebraska (Alexander Payne, 2013) - o diretor sempre trabalhou o universo indie com um pezinho fincado no mainstream. Seus projetos nunca
abdicaram de nomes de peso para se materializarem (provavelmente uma exigência
dos produtores). Desta vez, o cineasta não só resgatou Bruce Dern do limbo,
como convenceu seus financiadores a filmar em magnífico preto e branco.
Resultado: seu melhor filme, num retrato amargurado do americano médio.
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