O roteirista Guillermo Arriaga ficou
definitivamente associado ao diretor Alejandro Gonzalez Iñarritu como autor das
múltiplas histórias inter-relacionadas dos três filmes que acabaram se tornando
comercialmente consagrados: Amores Brutos
(2000), 21 Gramas (2003) e Babel (2006). Apesar de toda a badalação
(e, posteriormente, do rompimento regado a acusações de autoria oriundas de
ambas as partes), tenho pra mim que o melhor roteiro escrito por Arriaga ficou
a cargo da direção de Tommy Lee Jones em um filme que infelizmente não
conseguiu romper o círculo cinéfilo rumo ao grande público, The Three Burials of Melquiades Estrada
(2005) – no Brasil ele recebeu o título de Três Enterros. A minha experiência com ele foi a mais próxima que
um filme pôde chegar de Tragam-me a
Cabeça de Alfredo Garcia (1974), de Sam Peckinpah - só essa aproximação já
valida a sua qualidade.
Levou praticamente dez anos para que
Tommy Lee Jones nos brindasse com outro filme seu - estou desconsiderando o
telefilme produzido no meio tempo, Sunset
Limited (2011). Novamente o ambiente retratado é o oeste norte americano,
território explorado por Jones como o contraste entre os valores de dois modos
de vida (campestre x urbano), cuja paisagem atravessada é tanto geográfica
quanto emocional. O filme leva um tempo para se impor, enquanto se presta a
explicar a jornada que a personagem de Hillary Swank toma pra si e aguarda a
entrada do personagem de Tommy Lee Jones em cena.
A partir do momento em que os dois partem
em uma longa viagem pelas planícies do Nebraska, com a árdua tarefa de conduzir
as três mulheres que enlouqueceram aguardando ajuda psiquiátrica em outras
bandas, os atores, sobretudo Hillary Swank, carente de um papel à altura de seu
talento, assumem as rédeas da produção. Embora as três mulheres sejam a razão
do deslocamento insensato, suas presenças em cena se resumem a gritos e grunhidos,
sem qualquer relação com algumas passagens e encontros que beiram o
surrealismo. A ameaça que espreita o trajeto por eles percorrido vem
normalmente dos sujeitos "normais" com os quais a caravana cruza, e a
morte exerce o papel de convidada de honra, sempre pronta para dar as caras sem
pedir licença.
Como é de praxe nos road movies, o deslocamento provoca nos personagens uma intensa
reflexão interior, capaz de pôr em perspectiva toda a experiência acumulada por
eles até então. Os protagonistas trocam de posição o tempo todo no exercício
dessa premissa, descuidados da influência que o orgulho pode exercer sobre essa
pratica - dificultando esse "aprendizado”. A insistência nesse comportamento,
resultado de uma convicção arraigada e um bocado de teimosia, cobra o preço
mais alto que um indivíduo pode pagar, ironicamente necessário para que seu
caráter soberano seja por fim reconhecido pelo outro. Ao término, homens e
mulheres terão seus papéis devidamente dissecados como gênero, encontrando um
possível conforto para a dor injuriante na música. Filmaço!
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