A produção de longas metragens
nacionais anda a todo vapor. O caderno Ilustrada
da Folha de S.Paulo na edição da
última terça feira, dia 04 de outubro, publicou em sua capa uma matéria extensa
do cinema independente nacional que, mesmo em escala ínfima, conseguiu chegar
às telas dos cinemas da capital paulista. São produções da Alumbramento (Estrada para Ythaca, Os Monstros), do Teia (Girimunho),
da Filmes do Caixote (Trabalhar Cansa) e da Duas Mariola (A Fuga da Mulher
Gorila, A Alegria). Pra minha surpresa (e bota surpresa nisso) Trabalhar Cansa (2011), de Juliana Rojas
e Marco Dutra, estreou no cinema de Ribeirão Preto. E, curiosamente, não foi
no Cauim, que eventualmente serve de espaço para essa produção periférica.
Embora eu saiba que isso não represente muita coisa, só o fato de eu não precisar
me deslocar até São Paulo ou aguardar a estréia do longa-metragem no Canal
Brasil já serviu de consolo. Pena que, a julgar pelo público presente na sessão
em que eu estava, a carreira do filme nas telas de Ribeirão Preto não deverá
durar muito.
Eu gosto bastante desses filmes
que se vendem como um determinado produto, ou gênero talvez, e acabam se mostrando
bem mais complexos do que aparentam. Normalmente são filmes que atraem o
público por determinadas características (naturalmente atrativas, por meio de clichês, por exemplo), e acabam fazendo
uso delas para explorar outras esferas de interesse não circunscritas apenas ao
apelo comercial que levou tal público a procurá-lo. Às vezes, o resultado
cheira a enganação, fazendo jus à expressão “comer gato por lebre”; em outras,
nos leva a reflexões que não teriam o mesmo impacto caso o tratamento dado
fosse mais convencional – aqui, o gênero potencializa o efeito do filme, se
mostrando como a opção mais adequada para fazer o filme “funcionar”.
Trabalhar Cansa se enquadra perfeitamente no segundo grupo:
aproveita o gênero fantástico pra extrair alguma coisa (bastante relevante) a
mais da fórmula. A exploração do gênero, nesse caso, evita que o filme soe demasiado
panfletário, contribuindo para amenizar o “peso da mensagem”. Nem tudo é dito e/ou
esclarecido, de forma que cabe ao público estabelecer as associações entre os
elementos dispostos para conferir sentido ao que se vê. Nada é imposto ao
espectador, tudo é sugerido.
O filme acaba fazendo uma
poderosa reflexão a respeito das relações de trabalho no mundo moderno. Quem
quer que veja o filme, se identificará com alguma ocorrência semelhante em sua
própria vida. A comicidade surge do absurdo de determinadas situações a que os
personagens se sujeitam, em especial o Otávio de Marat Descartes. A cena final me
lembrou o grito desesperado de Peter Lorre na obra-prima de Fritz Lang, M, O Vampiro de Dusseldorf (1931). De
alguma forma, enquanto eu assistia, minha referência era O Corte (2009), de Costa-Gavras – talvez pela temática e o humor (negro)
associado à abordagem. Melhor referência fez a reportagem da Folha ao associá-lo ao universo de
Joon-ho Bong (O Hospedeiro e Mother – A busca pela verdade). Mais
justo!
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